Quando o sentimento de posse se torna doentio

No início do mês de junho o Brasil ficou surpreso e indignado com um episódio que levou à morte o executivo Marcos Kitano Matsunaga, de 42 anos. A esposa dele, Elize Matsunaga, de 30 anos, o matou e esquartejou o corpo após ver as provas de que ele mantinha um relacionamento extraconjugal. Essa atitude extrema leva a pensar sobre a força do ciúmes, esse sentimento de posse que induz a ações inesperadas e sem escrúpulos.
Para o psiquiatra Leonard Verea, é normal sentir ciúmes, principalmente por quem se tem apreço. “Porém, em uma avaliação técnica isso significa manifestação concreta de um sentimento de insegurança, porque a pessoa segura de si e da relação não tem motivo para ter ciúmes, não há nada que pode desencadear esse sentimento.”
O problema todo está no desequilíbrio e no exagero. “Quando essa insegurança se torna exacerbada ou os motivos que a geram são comprovados, pode haver reflexos ruins, como no caso da morte do executivo.”
O passo para o perigo
O ciúmes passa a ser uma ameaça e um sentimento sem limites quando a pessoa é alguém sem base sólida. “Bons alicerces, boa estrutura emocional e educacional ajudam a pessoa a se manter em equilíbrio, a conviver com as derrotas, com desaforos, além de ajudar a se erguer e não alimentar sentimentos negativos, como a vingança”, esclarece o psiquiatra.
Mas, para Verea, o perigo não está somente na falta de estrutura familiar e cultural. “Existe também aquela questão: ‘Se não é meu, não é de ninguém!’ Esse sentimento é alimentado por uma pessoa desestruturada, que ao se ver frente a uma traição, se sente impotente, e a insegurança se desenvolve como um turbilhão.”
Porém, uma pessoa saudável não pensa dessa forma. “Ela desenvolve outro pensamento: ‘Se não me quer, não me merece!’ E assim, ela sai do relacionamento e parte para outra experiência. Quem não consegue pensar assim é uma pedra bruta, sem lapidação.”
As consequências
Quem se deixa levar pela insegurança do ciúmes tem atitudes desmedidas. “São pessoas imediatistas, não pensam nas consequências. É por isso que, muitas vezes, atos como esse de assassinato não são elaborados, premeditados”, explica Verea.
Contudo, o psiquiatra faz questão de enfatizar que qualquer ser humano pode chegar a esse ponto de loucura, mas também de recuperação. “Eu penso que essa mulher pode ser recuperada. Acredito que, após pagar pelo que fez, ela pode encontrar alguém que a ame, a respeite e a preserve”, finaliza.
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